Discursando certa vez na Câmara dos Comuns o velho Pitt, conde de Chatham, exclamou: “The atrocious crime of being a young man, I shall neither attempt to palliate nor deny.”
O mesmo pode dizer – e o dirá no largo futuro intelectual que o espera – José Guilherme Merquior.
Seu crime de ser jovem persegui-lo-á sem atenuantes, porque, nele, o moço-revelação de hoje será o inovador de amanhã, e de depois de amanhã.
Não mais estarei no mundo para admirá-lo, no longínquo depois de amanhã que lhe prevejo, tão colorido e revelador como a manhã de agora, em que o extraordinário escritor de trinta anos revela-se, neste livro, um dos mais poderosos e aparelhados engenhos críticos de toda a história da inteligência brasileira.
Não será fácil, nem talvez tranquila, a sua contribuição magistral, porque ela, rigorosamente desatenta das contingências – quase diria das conveniências, no sentido hedonístico desta palavra – pode desgostar os jovens, com a demonstração do frescor intemporal das obras seculares que atingiram os mais altos fins (estou pensando em Montaigne), mas também pode irritar os velhos, com aquela terrível impressão de morte – a mais forte, a primeira! – que é não mais entender a vida.
Há pouco mais de um ano, tive a honra de ser agasalhado em um jantar, por um grupo de moças e rapazes brasileiros, em Washington.
Observei com surpresa, e com quase cólera, que elas e eles consideravam superada a poesia de Drummond, não por causa dela, mas pela idade do poeta.
O estudo de José Guilherme Merquior sobre Boitempo diz com mestria o que eu, naquele encontro, só imperfeitamente e polemicamente pude articular. Espero que meus encantadores companheiros de mesa e vinho leiam este estudo.
A astuciosa Mímese, que Merquior nos apresenta, meio hegeliana e meio aristotélica, é, no momento, a maturação da experiência do grande crítico, ao termo dos seus seis anos de Europa: experiência de furiosas leituras estéticas e sociológicas.
Este livro será um marco inesquecível na década cultural brasileira dos 70.
Diante do seu autor, querido amigo e jovem mestre, meu sentimento avulta, sempre o mesmo, desde quando o conheci e lhe estendi a minha mão de companheiro meio paterno. Este sentimento se resume em duas palavras: esperança entusiástica.
– Afonso Arinos de Melo Franco